quinta-feira, 10 de novembro de 2011

A caverna de Maria


''Assim como Maria nós também podemos ter a nossa caverna.''


Compartilhamos o vídeo com a história de uma personagem que tipifica a problemática social e filosófica envolvida no contexto não muito distante da nossa realidade.
A pobreza, a ignorância, a vida sem perspectiva, os preconceitos, os traumas e por fim a amargura por um sonho não concretizado, de uma vida que transcorreu sem ousadia ou alegria de novas descobertas.
Como protagonista temos a figura de uma mulher nordestina, com o codinome de Maria.
A menina Maria como toda criança, anseia por aprender e por descobrir. No vídeo ela se encontra com um caderno na mão escrevendo o seu nome. Pode parecer algo simples, mas escrever o próprio nome é conquistar uma identidade, é o primeiro passo para se valorizar e se enxergar como gente. No entanto a mãe repreende a filha, esboça com descaso a atitude da criança e a manda fazer algo útil, como trabalhar.
Se a criança é tolhida pelo adulto, no momento em que faz tarefas relativas ao seu aprendizado, poderá perder o interesse, a vontade de descobrir coisas novas, ficando paralisada no seu processo de aprendizagem por medo ou insegurança.
A Maria jovem, talvez uma adolescente, a espera do seu primeiro filho, representa ainda ter sonhos, porém algemada por um ciclo de vida, conforma-se com a situação, iludida por um amor eterno que supriria todas as suas necessidades.
A Maria adulta, novamente grávida, mãe de uma penca de filhos homens, acabada pelo tempo, velando o seu marido, esboça aqui toda a sua amargura, despejando sobre a sua única filha mulher os traumas de sua história de vida, cometendo o mesmo erro que sua mãe lhe fizera.
O vídeo levou-me a comparar a vida de Maria com o Mito da Caverna. O mito da Caverna, também conhecido como alegoria da caverna, foi escrito pelo filósofo grego Platão e encontra-se na obra intitulada A República (livro VII).
Trata-se da exemplificação de como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade.
Quando a menina Maria escrevia o seu nome sobre o caderno, seria como se ela estivesse se libertando aos poucos, se movendo e avançando na direção do muro de escape, enfrentando os obstáculos que a levaria ao encontro da saída da caverna. No entanto, quando a mãe Maria afasta a criança do caderno, alegando que a menina estava perdendo o seu tempo, brincando de rascunhar, ela é jogada novamente para dentro da caverna, como os homens acorrentados a falsas crenças, preconceitos, idéias enganosas e, por tudo isso, inertes em suas poucas possibilidades.
Não é absurdo dizer que a maioria das pessoas é conformista e boa parte é ignorante. John Kennedy disse certa vez que “o conformismo é carcereiro da liberdade e inimigo do crescimento”. Conformismo confunde-se com ignorância. Estar conformado com a situação é permitir que os velhos abusos sociais continuem acontecendo. No nível individual, é fechar os olhos para a realidade e beleza da vida e do mundo. O conformismo aceita a representação de mundo que as instituições dominantes na nossa sociedade lhe impõem. Isso é um suicídio intelectual, temperado com uma falsa sensação de segurança. Quanto mais conformados estamos, menor é o nosso potencial de mudança.
Infelizmente, a caverna de Maria lhe pareceu mais segura, o medo de se arremessar ao novo sobressaiu aos seus sonhos. Essa realidade, de certa maneira, representada por essa história, pode ocorrer de várias formas. A situação representada é só uma faceta poderosa do que seja a luta constante que o ser humano enfrenta no decorrer de sua vida.
Assim como Maria nós também podemos ter a nossa caverna.
Pessoas que passam anos e anos a viver vidas banais internados em cavernas completamente cheias de outros que como eles chegaram aos dias do fim de suas forças fragilizados, velhos e abandonados. Em pouco tempo, certamente, os humanos internados nas cavernas, regridem até a impotência total, ao total abandono, ao desespero, e certamente tenderão a acreditar que aquela existência é que é vida.
Cabe aos professores, a responsabilidade em apresentar o lado de fora da caverna, agir na formação construtiva da vida. Trazer aos alunos conhecimento sustentado não somente por valores que excedem o interesse material, mas sim, visando outros interesses que sublimam o relacionamento deles no ambiente em que vivem, seja na esfera familiar, educacional ou profissional. Preparando-os para um convívio de saberes e conhecimentos; desenvolvendo, desse modo, novas competências, habilidades e valores éticos para um mundo globalizado e socialmente carente.

Não só de conteúdos se forma um homem, mas é preciso abrir o leque, fazer do educando um ser pensante, que se transforma e que transforma o mundo.